Meu nome é trabalho
- Antonio Augusto Brito
- 9 de ago. de 2017
- 2 min de leitura

Comércio de pau-brasil por brasileiros

Hoje resolvi dar um tempo nas correções para falar de curiosidades do nosso idioma. A inspiração veio do livro “A origem curiosa das palavras”, do jornalista Márcio Bueno.
Na língua portuguesa, os gentílicos – ou seja, os nomes que indicam país, estado ou cidade com relação ao local onde alguém nasceu ou habita – têm como sufixos: -ano, -ão, -ense, -ês, -esa, -eu, -ino.
Exemplos: italiano, alemão, parisiense, português, escocesa, europeu, florentino.
Em relação aos países, o único gentílico que usa o sufixo -eiro é “brasileiro”. Já em relação aos estados, o único é “mineiro”.
E por que isso? Na nossa língua, o sufixo -eiro denota ofício, profissão, assim como os sufixos -ário, -dor, -sor, -tor, e -nte.
Exemplos: pedreiro, bibliotecário, vendedor, professor, inspetor, escrevente, ajudante.
Está aí, justamente, a origem dos gentílicos “mineiro” e “brasileiro”, para quem nasceu em Minas Gerais e no Brasil. “Mineiro” tem origem justamente no profissional que trabalhava nas minas. E a palavra “brasileiro” surgiu não como um adjetivo pátrio, mas para designar quem extraía o pau-brasil, e, por extensão, quem atuava na sua comercialização – assim como “seringueiro” e “negreiro”. Ou seja, o gentílico "brasileiro" tem tudo a ver com trabalho.
Mas, segundo o lexicógrafo e filólogo Francisco Silveira Bueno, o adjetivo tinha originariamente cunho pejorativo, porque esses profissionais haviam sido criminosos banidos de Portugal. Logo, ninguém queria ser chamado de “brasileiro”. Antes da independência, nem D. Pedro gostava de ser chamado assim, como se constata no comentário feito por ele e relatado pelo padre Belchior Pinheiro (apud Castellani): “As cortes me perseguem, chamam-me, com desprezo, de rapazinho e de brasileiro”.
Ou seja, nosso complexo de vira-lata vem de longe...
* Carla Paes Leme é jornalista, revisora e dá aulas particulares de gramática desde a juventude. Atualmente, cumpre, diariamente, a missão dada, do Além, por Machado de Assis: preservar o Português, que, ao menos em Botafogo, há de ser imortal.
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