"Mim" não faz nada; quem faz sou "eu"
- Antonio Augusto Brito
- 28 de jun. de 2017
- 2 min de leitura

Trabalhei muitos anos da minha vida em rádio e sempre fui de prestar atenção às letras das músicas. Algumas feriam meus ouvidos. Uma delas era um sucesso do grupo Soweto, do qual Belo era vocalista.
A música de Altay Veloso "Antes de dizer adeus", lançada no CD “Refém do coração”, de 1997, traz um grave erro gramatical. Um trecho da letra diz assim: “... Desejo pra você paz e saúde / Que o bom Deus lhe ajude / Pra você cuidar dos seus, pra mim cuidar dos meus...”.
Ai, Jesus! Doía – a ainda dói – ouvir “pra mim cuidar dos meus”. Quem dera que esse tipo de erro só estivesse nessa canção! Mas, infelizmente, é muito comum escutar uma heresia dessas!
Na fila do Estação Net Rio, ouvi uma moça ao celular: “É pra mim comprar o seu ingresso ou não é?”. Numa padaria da Voluntários: “não dá pra mim trocar 100 reais!”.
O uso indevido do “mim” nesse tipo de frase não tem o menor cabimento! A gente não fala, por exemplo, “ele deu o livro para te leres”. Ou seja, não se usa pronome oblíquo como sujeito. O certo seria usar o pronome pessoal reto “tu”: ele deu o livro para tu leres.
Da mesma forma é com o “mim” e com o “eu”.
Observem:
Ele deu o livro para mim.
Ele deu o livro para eu ler.
Na primeira oração, o “mim” é um complemento (no caso, complemento verbal, um objeto indireto). Já na segunda oração, o “eu” é sujeito (quem pratica a ação) de um verbo no infinitivo: “para eu ler”.
Então, nada de “mim ler”, “mim comer”, “mim fazer”, por favor!!!

* Entenda que função subjetiva é função de sujeito, enquanto função objetiva é função de complemento verbal (objeto direto ou indireto).
* Carla Paes Leme é jornalista, revisora e dá aulas particulares de gramática desde a juventude. Atualmente, cumpre, diariamente, a missão dada, do Além, por Machado de Assis: preservar o Português, que, ao menos em Botafogo, há de ser imortal.
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