Derrotado
- Antonio Augusto Brito
- 20 de jun. de 2017
- 2 min de leitura


Ainda são 10h36.
O tempo é meu camarada enquanto me deslumbro pelos corredores do Prezunic lá em frente ao cemitério.
Crianças estão para Peppa Pig assim como eu estou para supermercado.
Com o Sodexo cheio, então... Coração dá cambalhotas!
Carrinho sob controle, deslizo pelas fileiras de sabões em pó, iogurtes, pães, desinfetantes, vinhos, tubérculos...
É como se eu tivesse sido acometido pelas apetitosas dores do amor. Quem nunca?
Meu rolé enfeitiçado chega ao fim, e a fila é o início da fúria.
Nuvens negras se chocam no céu de mil raios, e as trevas chegam à Terra num apocalipse feroz.
Isso tudo, claro, porque todas as filas dos caixas estavam enormes.
À exceção de uma.
E, como quem avista um oásis, me dirigi a ela.
Apenas uma mulher à espera do caixa 14.
Tudo bem que ela estava com o carrinho entupido, com uns duzentos e noventa e um itens.
Tipo eu na loja virtual da Adidas (só que, como lá não aceita Sodexo, só encho o carrinho para me iludir mesmo).
Mas, tudo bem. Apenas uma pessoa na minha frente.
Um único carrinho.
A moça começa a passar os produtos pela esteira, e, pouco a pouco, minha vez se aproxima.
Olhei para o lado e constatei que ainda estava no lucro, posto que um rapaz que escolheu o caixa 13 no mesmo momento em que vim para cá ainda continuava bem longe de ser atendido.
Sim, eu "aposto corrida" nas filas de supermercado.
A mulher terminou de passar as compras, mas, com as mãos espalmadas em apoio sobre a esteira do caixa, esticou o pescoço e olhou para o interior do mercado, como quem procura alguém.
– Vem logo, Rogério!
Nessa frase, meu mundo caiu.
Rogério chegou no meu outrora dito oásis com um carrinho igualmente abarrotado.
– Vai passando aí, amor, que eu vou indo pro carro pra colocar essas compras no porta-malas – disse a mulher ao marido.
Mais uma eternidade.
Minutos depois, o carrinho do Rogério ainda estava pela metade.
Olhei novamente para o rapaz do caixa 13.
E ali eu vi que meu mundo jamais seria o mesmo.
O bicho terminava de ensacar suas compras.
Distribuiu os pesos entre os dois braços, lançou-me um olhar vitorioso e partiu.
Não sou o único que aposta corrida em filas de supermercado.
* Marcos Luca Valentim é jornalista, cronista e poeta
Outros surtos
Comments