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Para não confundir a fruta com a cor

  • Foto do escritor: Antonio Augusto Brito
    Antonio Augusto Brito
  • 14 de jun. de 2017
  • 2 min de leitura

curta botafogo

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Ainda tenho o hábito de parar diante de uma banca de jornal – que agora vende mais outros artigos do que periódicos. Havia uma manchete que falava da cantora Maria Gadú. Gosto do trabalho dela, mas fiquei incomodada com o acento agudo em “Gadú”. Tudo bem que nome artístico cada um assina como quer. Mas a verdade é que não faltam erros de acentuação como esse em placas, cartazes e – infelizmente – até em jornais!

A maioria dos vocábulos da língua portuguesa são* paroxítonos. Isso significa dizer que as palavras têm sua tonicidade em suas penúltimas sílabas. Exemplos: casa, escola, cadeira, volume, ovo...

Esse paradigma nos leva a várias questões. Uma delas é que as palavras oxítonas – as que têm a tonicidade nas últimas sílabas – sempre são acentuadas à exceção... “lá vem”, vocês dirão, “sempre tem exceção para complicar”. Algumas letras puxam a tonicidade para elas, caso de “i” e “u”. Por isso, palavras oxítonas como “jabuti” e “urubu” não são acentuadas – justamente por que não precisam ser, já que “i” e “u” já são tônicas por natureza.

Pelo mesmo motivo, palavras paroxítonas que terminam em “i” e “u” têm de ser acentuadas para evitar que sejam lidas como se fossem oxítonas. Bons exemplos são as palavras “cáqui” e “caqui”. Notem que o acento faz toda a diferença. Com acento, a palavra paroxítona é o nome de uma cor. Sem acento, a palavra oxítona é o nome de uma fruta.

Acentuação é um tema extenso. Por isso, voltarei muitas vezes a ela. O importante é mostrar que não precisamos decorar regras, como tentaram nos impor nos tempos de colégio, mas entender o porquê da acentuação.

Então, você já sabe: nada de tacar acento em palavras como Muriqui, engoli, urubu e Iguaçu.

* Antes que você estranhe a concordância da frase “a maioria dos vocábulos da língua portuguesa são...”, trago esclarecimento da gramática do professor Domingos Paschoal Cegalla: “Sendo o sujeito uma das expressões quantitativas a maior parte de, parte de, a maioria de, grande número de, etc., seguida de substantivo ou pronome no plural, o verbo, quando posposto ao sujeito, pode ir para o singular ou para o plural, conforme se queira efetuar uma concordância estritamente gramatical (com o coletivo singular) ou uma concordância enfática, expressiva, com a ideia de pluralidade sugerida pelo sujeito.” E Cegalla dá vários exemplos, dos quais pincei uma frase do respeitável filólogo e lexicógrafo Aurélio Buarque de Hollanda: “A maioria dos presentes, formando grupos, contavam histórias, baixinho, falavam de coisas da vida”.

* Carla Paes Leme é jornalista, revisora e dá aulas particulares de gramática desde a juventude. Atualmente, cumpre, diariamente, a missão dada, do Além, por Machado de Assis: preservar o Português, que, ao menos em Botafogo, há de ser imortal.

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