Um sonho sem controle
- Antonio Augusto Brito
- 13 de jun. de 2017
- 2 min de leitura


Eu vencia o Usain Bolt quando o alarme despertou.
Relutante, não quis levantar. Mas o celular berrava aquela onomatopeia dos infernos.
Ainda de olhos fechados, tateei pela cabeceira e apertei o telefone de todas as formas possíveis até silenciá-lo.
Acho que ele caiu no chão.
Fiquei na cama por alguns instantes ainda – na minha cabeça, uns 7 minutos.
Ilusão...
Quando, enfim, me pus de pé, constatei: o alarme tocara 49 minutos antes.
Atrasado? A menos que algum feitiço me transporte até o Recreio em menos de uma hora, sim.
O banho foi um nojo.
A roupa, meio amarrotada, meio bancarrota.
Joguei duas bananas pra dentro, tomei um iogurte e acho que ainda mastigava quando comecei a escovar os dentes.
Passei a mão nos pertences que estavam na cabeceira e enfiei tudo no bolso.
Saí de casa desejando ter a velocidade que eu tinha no sonho.
Decolei pela Voluntários.
Uma vez no metrô, consegui me sentar já na Siqueira Campos.
Glória, glória, aleluia!
– Tô a fim de ler agora não. Vou ouvir uma música aqui, numa boa - pensei.
Peguei os fones de ouvido na bolsa e cutuquei o bolso para pegar o celular.
E, magicamente, tirei o controle remoto da NET lá de dentro.
Sem sacanagem: fiquei até General Osório olhando estarrecido pro absurdo que estava na minha mão.
O controle.
Remoto.
Da NET.
Quando, enfim, retornei à sanidade visual, vasculhei o outro bolso.
Cara, não é possível que eu peguei o controle achando que era o celular!
Mas, sim.
É possível.
E cá estou eu, dando fast forward no metrô, sem chances de apertar o voltar.
Melhor me desligar antes que me troquem de canal.
Ou de sonho.
Lá vem o Bolt...
* Marcos Luca Valentim é jornalista, cronista e poeta
Outros surtos
Comments