Venha para a aula você também, venha!
- Antonio Augusto Brito
- 7 de jun. de 2017
- 2 min de leitura


Juntei-me aos milhões de trabalhadores que foram raspar as contas inativas na Caixa Econômica Federal e encarei a fila na agência da rua Nelson Mandela. Ainda do lado de fora, ouvi um rapaz animado falar com um amigo pelo celular:
– Vem pra caixa você também, cara! Vou pagar minhas dívidas com os resíduos do fundo de garantia!
Foi aí que me lembrei desse crime contra a língua portuguesa: o crime do duplo tratamento, quando se mistura a 2ª com a 3ª pessoa. Essa confusão entre “tu” e “você” é muito comum!
Esse erro é tão comum que foi visto até em propaganda do governo! Caso do famoso e repetido bordão da Caixa Econômica Federal: “Vem pra Caixa você também”.
Pois é, se até publicitários bem pagos com os nossos impostos erram, imaginem os pobres mortais! É claro que num bate-papo, a gente usa e abusa da linguagem coloquial, mas há ocasiões em que fica feio mesmo cometer erros como esse.
Na propaganda, o verbo “vir” está no modo Imperativo, que exprime uma ordem, um conselho, um convite. O Imperativo pode ser Afirmativo ou Negativo. O Afirmativo é formado da seguinte forma:
a) Para a 2ª pessoa do singular e a 2ª pessoa do plural – tu e vós –, o verbo se conjuga pelo Presente do Indicativo, com a supressão do “s”. Exemplo: tu vens / vós vindes (Presente do Indicativo) – vem tu / vinde vós (Imperativo Afirmativo).
b) Já o restante vem tudo do Presente do Subjuntivo: que ele venha / nós venhamos / eles venham (Presente do Subjuntivo) – Venha você / Venhamos nós / Venham vocês (Imperativo Afirmativo). Huuuummmm... ficou confuso? Vou botar num quadro para facilitar.

Notem que não existe a primeira pessoa do singular (eu), já que não se dá uma ordem a si mesmo.
O Imperativo Negativo é mais fácil: vem todo do Presente do Subjuntivo.
Exemplos:
a) Não cantes tu, não cante você, não cantemos nós, não canteis vós, não cantem vocês.
b) Não vendas tu, não venda você, não vendamos nós, não vendais vós, não vendam vocês.
c) Não partas tu, não parta você, não partamos nós, não partais vós, não partam vocês.
Esse é fácil!
Ah! Mas se você não entendeu por que “você” é considerado terceira pessoa, eu explico: o pronome de tratamento “você” vem de “vossa mercê”. Como com outros pronomes similares – Vossa Majestade, Vossa Eminência, Vossa Santidade, etc –, a concordância verbal se faz na 3ª pessoa. Apesar de o verbo estar se referindo ao receptor da mensagem, ou seja, à 2ª pessoa do discurso.
Tomara que eu tenha lhe ajudado a evitar o duplo tratamento. Tratamento especial a gente tem é de dar à nossa língua portuguesa!
* Carla Paes Leme é jornalista, revisora e dá aulas particulares de gramática desde a juventude. Atualmente, cumpre, diariamente, a missão dada, do Além, por Machado de Assis: preservar o Português, que, ao menos em Botafogo, há de ser imortal.
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