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Aqui não é Candy Crush!

  • Foto do escritor: Antonio Augusto Brito
    Antonio Augusto Brito
  • 6 de jun. de 2017
  • 2 min de leitura

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É complicado viver em harmonia com a sociedade.

Não falo da maioria das pessoas, porém: aqui, trato de Douglas.

Vinte e quatro anos vividos à base de respostas curtas, fones nos ouvidos e negativas tão danosas como um soco na barriga pós-rodízio de carne.

Aconteceu de manhã.

O semblante do rapaz estava horrível: voltava de um exame de sangue – e ficar horas sem comer é a punição máxima para o humor do Douglas.

Chamou o elevador.

Ele mora com a mãe e o padrasto no quarto andar do Edifício Carajás, ali na Voluntários da Pátria.

O visor indicava que sua condução estava parada no sétimo andar.

Os punhos cerrados do jovem prendiam a circulação da mão inteira.

O elevador, enfim, começou a descer.

As mãos relaxaram um pouco mais, enquanto os olhos intimidavam o placar dos andares.

Parou no terceiro.

– Puta que pariu! – sussurrou entre dentes, pisando forte no vistoso chão de porcelanato do hall.

A raiva e a fome, nesse momento, trouxeram uma companheira: a contraída bexiga.

O suplício só aumentava.

Elevador chega.

Três pessoas dentro – um casal sai primeiro.

Roberta mexe no celular e não percebe que é chegado o térreo.

– Vai sair? – perguntou Douglas, de forma direta, com a sutileza que lhe é peculiar.

– Ah... Desce? – devolveu Roberta, recobrando os sentidos ao reparar que a vida não se

resume a Candy Crush.

Douglas não aguentou.

Afinal, era o térreo, não tinha mais para onde descer.

E ele queria ir pra casa.

E ele queria comer.

E ele queria mijar.

E ele queria explodir.

– Não! O elevador vai sair por aí dando cambalhota!

Roberta saiu devagar com os olhos arregalados num susto que, com certeza, está lhe rendendo assunto até agora no consultório dentário em que trabalha.

Douglas invadiu o elevador sem pudor, como Bush fez com o Iraque.

Já em casa, pôs dois pães pra torrar no fogão e correu banheiro adentro a fim esvaziar a bexiga.

No embalo do xixi, o intestino acusou cocô.

Sentou no vaso.

Fez.

Deu descarga.

Lavou as mãos.

E cogitou seriamente o suicídio ao ver que o pão havia queimado.

* Marcos Luca Valentim é jornalista, cronista e poeta

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