Tolerância zero
- Antonio Augusto Brito
- 2 de mai. de 2017
- 1 min de leitura

Dia desses, chovia num fim de tarde.
O céu esbravejava uma considerável cólera, diga-se de passagem.
Ali na Voluntários, na altura da Cacau Show, um homem de bermuda e camiseta, como quem sai da academia, se protegia sob a marquise.
A chuva não parecia diminuir, ao contrário da esperança que o homem nutria de chegar seco em casa.
Vindo do Bradesco, do outro lado da rua, um outro homem chega ao abrigo num pique usainboltiano.
Molhado, mas, ainda assim, mantinha seu orgulho e parte do paletó secos.
– Tá chovendo bem, né? – perguntou o recém-chegado hóspede da marquise.
A chuva, a iminente inundação e a pergunta ridícula levaram a uma resposta cruel.
Seguida de um ato impensado.
– Sabe que não? – respondeu o outro, no auge da ironia. Dito isso, saiu da marquise e pôs-se a andar pela chuva, aceitando o encharcado destino.
O homem do paletó ficou lá parado, sem entender nada, com gotas pingando de seu avantajado nariz.
Eu? Eu estava de camarote, na Dona Empada X, assistindo a tudo enquanto me atracava com uma empada de queijo.
Deliciosa, vale ressaltar.
* Marcos Luca Valentim é jornalista, cronista e poeta
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