Ação e reação
- Lucio Valentim
- 14 de nov. de 2018
- 2 min de leitura

Em verdade, a chamada Revolução de 30 foi um golpe. Decerto, não o primeiro em que se depôs um presidente legitimamente eleito. E com Supremo e tudo.
Claro: militares sempre na contenção.
Não há como negar, portanto, as intenções e as violentas arbitrariedades da Ditadura Vargas.
Porém, conforme ensina a terceira lei de Newton, toda ação provoca uma reação de mesma intensidade, mas com sentido oposto.
Sim: uma ferrenha oposição logo se fez necessária – e legítima.
Ao lado de tenentes, intelectuais e estudantes, na luta anti-imperialista, antifascista e anti-integralista, um dos primeiros civis a se colocar a postos fora o soteropolitano Carlos Marighella.
Deputado federal cassado pelo regime varguista, Carlos levaria uma vida inteira lutando contra todos os governos de exceção que se sucederam no Brasil.
A ideia da repressão – desde Vargas – era sair dos porões e dos gabinetes para montar seus escritórios, onde aplicados meganhas pudessem fuxicar – e ceifar – vidas:
(...) um desses birôs – era voz corrente na época – ficava na rua Farani (Botafogo), quase em frente ao restaurante Zero Zero Quatro, frequentado pelos alunos das instituições particulares de ensino superior mais próximas (...)
Como o bairro fumegava de “aparelhos comunistas”, o líder guerrilheiro passaria temporadas por ali. Aliás, a primeira ação de seu grupo foi, literalmente, de cinema:
A primeira ação na Guanabara foi um assalto ao Cine Ópera, em Botafogo, em 27 de abril de 1969. A tentativa foi frustrada pelo guarda (...) que reagiu, dando início a intenso tiroteio. Surpreendidos com a reação, os cinco terroristas fugiram sem conseguir efetuar o roubo (...)
Houve também aquele louco, e exitoso, capítulo da expropriação do cofre que pagaria aos que cuidavam dos já totalmente enlouquecidos:
(...) os militantes destacam o episódio ocorrido no dia 3/9/1971 na casa de saúde Dr. Eiras, no bairro de Botafogo, no Rio. Ocupada por grupos revolucionários, (...) teve o capital “expropriado em nome da revolução”.
E do bairro era de onde – volta e meia – Marighella tinha que fugir, sempre às pressas.
Às vezes, direto para o Kremlin, conforme relatos contidos em Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo:
Marighella, àquela altura, estava longe da enseada de Botafogo. “Atenção, camaradas! Fala Moscou!”
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*Lucio Valentim é professor de Literaturas, doutor em Letras Vernáculas e pesquisador visitante no Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) da UFRJ
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