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Bárbaro

  • Lucio Valentim
  • 11 de abr. de 2018
  • 2 min de leitura

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Oswald de Andrade

O Modernismo brasileiro eclodiu em São Paulo. E as razões para que isso ocorresse não são assim tão claras, mas o certo é que, ali pelos idos de 1920, a capital paulista despontava como centro financeiro do País, e lá não apenas se concentravam artistas prenhes de talentos e ideais, como também picaretas ávidos de patrocínios – e de fama. E era em Sampa onde estavam todos os mecenas. Quem eram os “déspotas esclarecidos” de então?: a burguesia cafeeira recém-enriquecida, refestelada na metrópole, e movida a muito uísque, gim e foxtrote.

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Contudo, curiosamente, o surgimento do mais relevante nome do Modernismo no Brasil – Oswald de Andrade – não careceu do mecenato cafeeiro, e por um simples fato: era rico, herdeiro de abastada família latifundiária. Motivo pelo qual teve o privilégio de circular Europa afora, fazendo contato com o que de mais avançado havia em termos de vanguarda no mundo da arte.

Foi numa dessas conexões Sampa-Europa, embebido de ideias alienígenas, que o papa do Modernismo nacional idealizou e emitiu os mais importantes documentos-guia do movimento que marcou – na cultura – o limiar do século passado: o Manifesto Pau-Brasil e o Manifesto Antropofágico.

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Como o cosmopolitismo do poeta paulista sempre arrumava pretexto para fugir da agitada vida em São Paulo, Oswald frequentemente embarcava num trem para vir ao Rio prosear com os amigos cariocas.

Uma vez no Rio de Janeiro, o poeta, dramaturgo e ensaísta hospedava-se na casa do tio, também escritor, Inglês de Sousa, morador do famoso palacete da rua São Clemente, 271. Advinha, então, qual o bairro do Rio que, em forma de reminiscência, figurará no citado – e cifrado – Manifesto Pau-Brasil, bússola do movimento modernista nacional?:

A Poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos. O carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso.

*Lucio Valentim é professor de Literaturas, doutor em Letras Vernáculas e pesquisador visitante no Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) da UFRJ

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