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Ilustre desconhecido

  • Foto do escritor: Antonio Augusto Brito
    Antonio Augusto Brito
  • 21 de dez. de 2017
  • 2 min de leitura

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Marques Rebelo em Moscou para um congresso de escritores, em 1954

A literatura brasileira, assim como todo grande sistema literário que se preze, elege os que considera seus melhores escritores, aqueles que ganham espaço, e cujos nomes têm permanência no tempo. Alguns, inclusive imortalizados pela Academia Brasileira de Letras, mesmo possuindo produção literária obscura, sequer de nome são conhecidos. Em contrapartida, há aqueles que o tempo – com o auxílio perverso e luxuoso das forças ocultas do mercado – sufoca e esquece. A isto, em arte, chamamos cânone.

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Em outras palavras: o mesmo sistema impõe, põe e depõe, canonizando uns poucos enquanto subestima outros tantos.

Marques Rebelo encaixa-se neste último caso. Embora amigo de Jorge Amado, elogiado por Drummond, ganhador de importantes prêmios literários e com vasta obra mais de uma vez vertida para o cinema nacional e internacional, o carioca Rebelo é, dentro do sistema literário brasileiro, um fantasma.

Nascido no bairro de Vila Isabel e autor do clássico A estrela sobe, o escritor obtivera algum

reconhecimento literário em vida. E, ainda adolescente, matriculado no Andrews, veio a residir na Praia de Botafogo, 48.

O apartamento do Edifício Duque de Caxias era curiosamente denominado “chocadeira acadêmica”, posto que por ali passaram escritores ilustres que o tempo – ou o cânone – faria desconhecidos. Chegando ao Rio, Herberto Salles viera morar junto; outros fantasmas como R. Magalhães Jr e Álvaro Lins conviveram também durante um tempo no mesmo apartamento de Botafogo.

Como se não bastasse, na vizinhança circulava ainda Aurélio Buarque de Holanda, que à época já dispensava apresentações. O esquecido Edifício Duque de Caxias, portanto – repleto de futuros descanonizados, à exceção de Aurélio –, viveria outrora momentos de informal Academia de Letras.

Rebelo, cujo verdadeiro nome era Eddy Dias da Cruz, achava o nome próprio para puxador de escola de samba. Por isso, inventara o pseudônimo, aquele com que ficaria – para sempre? – ilustremente desconhecido.

*Lucio Valentim é professor de Literaturas, doutor em Letras Vernáculas e pesquisador visitante no Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) da UFRJ

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